Zanzibar

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Composições de Edu Lobo em versão instrumental, com uma formação sem fronteiras.

Por Fernando Grecco*
Meu caminho até me confessar um grande fã da riqueza da música brasileira foi um tanto ou quanto inusitado, porém de certa forma comum às pessoas de minha geração.
Aconteceu por volta de 1990, quando tinha 20 anos, tocava guitarra e violão de forma amadora, e conhecia algumas poucas coisas do Edu Lobo. Nessa época, escutava muito jazz e jazz rock, principalmente Coltrane, Mahavishnu Orquestra, Miles Davis, Return to Forever… De música brasileira, tinha um CD do Tom Jobim, Urubu, uma obra prima e um dos meus preferidos até hoje. Os vinis estavam acabando, e dando lugar aos CDs.

Então, na casa de uma amiga, achei um vinil do Edu Lobo, com uma foto na capa onde ele aparece andando, desfocado mas aparentando estar relaxado e com a mão no bolso. Já na primeira música foi um impacto: os baixos do piano em Vento Bravo anunciavam muita coisa do que estava por vir. No lado A, Zanga Zangada, Porto do Sol, entre outras pérolas. E no Lado B, uma Missa Breve! Que também dá título ao CD de 1972.

A partir daí, eu, que já gostava de música brasileira, passei a procurar tudo do Edu Lobo, e desde aquela época achei que ficaria linda uma fusão das suas composições com outros gêneros como o jazz, a música indiana, o rock – enfim, um “caldeirão” onde eu conseguisse colocar os ingredientes que me influenciavam e que pudessem ter seus sabores combinados.

Vinte anos depois, surgia a Borandá, produtora e selo de música brasileira. E, com ela, minha necessidade vital e vontade de fazer música, como sempre quis e sonhei. Sem concessões: música brasileira, mas sem fronteiras e rótulos.

Em 2011, reencontrei o Miguel, com quem já havia tocado em duo de violões nos anos 1990, e começamos, despretensiosamente, a estudar o repertório do Edu Lobo, principalmente aquelas músicas da década de 60, dos festivais e do início dos anos 70. Depois de uns 6 ou 7 meses, já estávamos com um repertório considerável e lembramos do Edgar (tabla), que conheci através do Miguel nos saraus que deram origem à Borandá em 2009. A tabla é um instrumento indiano, super tradicional, e traz com ela, quando tocada com a maestria do Edgar, toda uma tradição de um sistema de ritmos que enriqueceu muito o repertório que estávamos trabalhando. Tocamos juntos algumas vezes e ficamos bem contentes com o resultado, mas ainda faltava o quarto elemento.

O Beto Angerosa é quem conheço há mais tempo, desde 1986, quando tocávamos juntos em um trio (elétrico) de música instrumental. Agora, quando decidimos que precisávamos de mais uma percussão para deixar o som mais encorpado e dialogar com a tabla, o nome dele foi uma unanimidade. Ele traz as percussões do mundo todo – do Brasil também, é claro, mas da Espanha, da África, da Turquia, dos Bálcãs…

A partir daí começou o processo de criação coletiva dos arranjos, dando uma vida diferente às composições do Edu, sem perder sua essência. O resultado é o que vocês podem ouvir e ver nos vídeos. É música brasileira? Jazz? Música indiana? Rock? Talvez tudo isto junto e mais um pouco…

Então, esta é nossa proposta com o Quarteto Zanzibar: a música sem fronteiras, sem definições preconcebidas. ”Colando” o grande mestre Hermeto: Música Universal!
Agradecemos ao Edu Lobo pela obra maravilhosa e ímpar dentro da história da música brasileira contemporânea, e aos artistas e “gurus” do mundo todo que nos influenciaram neste trabalho e em nossas carreiras.
(*) Fernando Grecco é integrante do grupo e diretor artístico da Borandá.

O Quarteto:

Fernando Grecco: violões e voz

Fernando é diretor artístico da produtora e selo de música brasileira Borandá (também inspirado em uma das composições de Edu Lobo), que desde 2009 já lançou 15 CDs /DVDs e realizou mais de 100 shows de artistas como Ná Ozzetti, Toninho Ferragutti, Suzana Salles, Ivan Vilela, entre outros. Estudou canto com Eliete Negreiros e Suzana Salles, além de violão e guitarra através de cursos online da Berklee School of Music. É engenheiro elétrico formado pelo Mackenzie, com especialização em gestão de empresas na Harvard Business School. Atualmente cursa a pós graduação em Canção Popular na Faculdade Santa Marcelina. Suas principais influências, além de Edu Lobo, são Milton Nascimento, Egberto Gismonti, Hermeto Pascoal, John Coltrane e o guitarrista inglês John McLaughlin.

Miguel Fernandes: violões

Miguel é músico autodidata, tendo já gravado um CD autoral (Miguel Fernandes e grupo – Diamantina), em 2002. Sua formação acadêmica é em fisioterapia, pela PUC – Campinas, com pós graduação em fisioterapia cardio-respiratória, pelo INCOR. Trabalhou como técnico de som em vários estúdios e casas de shows na capital paulista, como o Estúdio PMC de música contemporânea e a casa de espetáculos Jazznosfundos. Sempre interessado e inserido no universo musical, possui também pós graduação lato sensu em Arte, Sustentabilidade e Ecopedagogia pela Uma-Paz, com o tema “O uso da viola caipira como instrumento de facilitação à ecopedagogia” em seu trabalho de conclusão do curso.

Beto Angerosa: percussão e voz

Beto é baterista e percussionista experiente, que realiza um trabalho original de criação e pesquisa musical numa perspectiva de grande versatilidade em diferentes estilos. É professor de percussão popular há 13 anos na EMESP (antiga ULM – Centro de Estudos Musicais Tom Jobim da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo), tendo acumulado em seu currículo diversos workshops e cursos, além de apresentações com artistas renomados no Brasil e no mundo: BMW Jazz Festival (com Toninho Ferragutti), Festival Nuits Atypiques de Langon (França, com Carlinhos Antunes), Pepe Cisneros e Yaniel Mattos (Cuba), Stewart Mennin (EUA), Lars Moller (Dinamarca), Hassam Hackmoun (Marrocos), dentre inúmeros outros. Tem atuação destacada com artistas flamencos espanhóis, como Agustin Carbonell “El Bola”, Antonio Heyes, Pol Vaquero, Belen Fernandez e outros.

Edgar Bueno: tabla indiana e voz

Edgar é músico profissional e professor de tabla, instrumento ao qual se dedica desde 1986, quando começou a estudar com Zé Eduardo Nazário, então precursor da tabla indiana no Brasi. Em 1992, esteve na Índia para se aprofundar na tabla com Pandit Shankar Ghosh de Calcutta e, depois, sob orientação de Ramesh Bapodara. Desde 2001, também estuda e tem parcerias com Daniel Paul (tablista norteamericano graduado no Ali Akbar College, na Califórnia). Acompanha diversos músicos em turnês nacionais e internacionais, tendo no jazzista e livre-musicista Carioca Freitas sua parceria mais significativa, registrada em 10 Cds gravados até a presente data.

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